– Parte I –

Quem não ouviu a expressão “merdaaaa” entre artistas? É como um “Deus te abençoe”, “vai dar tudo certo”, “vai lá e arrasa” e “boa sorte”. Se procurar a razão dessa expressão, encontrará algumas teorias diferentes. Vou contar aquela que sempre repassei para os alunos, que mais me identifiquei e gosto de imaginar que foi assim que tudo começou:

Há muito tempo atrás, quando as pessoas iam ao teatro de carroças, carruagens e a cavalo mesmo, os animais ficavam parqueados à volta do local e, literalmente, defecavam por todo o espaço.

Além do cheiro forte que entrava no teatro, as pessoas caminhavam e levavam consigo o fedor

Desta forma os atores sentiam o cheiro forte de merda lá dentro, nas coxias (bastidores no teatro) e podiam imaginar a quantidade de plateia por causa do cheiro. Quanto mais merda, mais gente tinha ido assistir ao espetáculo. E tudo que um ator/atriz deseja na vida é plateia! Para que o teatro exista, devem coexistir três fatores: ator/atriz, personagem e PLATEIA. Então: muita merda = muita plateia = muita sorte!

Costumo dizer que todo ator/atriz é um ser exibido, que gosta de se exibir: gosta de chamar a atenção.  Por isso, normalmente, quando recebia algum aluno(a) que fazia de tudo para “aparecer”, mesmo que atrapalhasse a aula na maioria das vezes, ali estava meu foco de atenção.

Alunos que me davam muito trabalho, sempre tiveram a direção do meu olhar. Não só porque sabia que atrás de tudo aquilo havia muita carência e, muitas vezes, solidão, mas também por que esta é uma característica de bons atores: gostar de aparecer!

Sempre recebia os “exibidos” nas turmas e já os identificava na hora. Era fácil, como podem imaginar. Aqueles espaçosos, que falam mais do que os outros e que tem opinião para tudo. Hoje quero falar deles, mas os reservados, tímidos e que, se pudessem, fugiam das minhas aulas, também aguçavam a minha plena atenção, mas isso será outra história, para um próximo artigo.

João, como lhe vou chamar nesse relato, era aluno recém chegado, novo na escola, turma do sétimo ano, entrou a falar alto, jogou a mochila longe e sentou-se do lado oposto dela. Isso assustou alguns colegas que já sentaram-se afastados do rapaz. Cheguei ao ouvido de João e pedi-lhe para pôr a mochila próximo a si. Ele, visivelmente irritado, chutou o objeto para seu lado.

Minha luzinha de “atenção” iluminou-se na minha mente.

Depois das devidas apresentações, boas-vindas para os novos e explanação das aulas de teatro, iniciei um simples jogo dramático: a caminhada. Todos precisam apenas caminhar pela sala e cumprir as ordens recebidas. “Cumprimentem os colegas com toque de mão”, “sem toque de mão”, “apenas com o olhar” e por aí vai.

João, acelerado, empurrou um colega que se desequilibrou e caiu. Risos na sala. O colega levantou-se rápido. Perguntei se estava tudo bem e o mesmo acenou afirmativamente. Parei a música e pedi ao João para sair da sala por uns minutos comigo. Entretanto, deixei uma atividade de duplas na sala: deveriam criar um cumprimento original, só deles.

O rapaz saiu irritado da sala e falámos. Perguntei como estava sendo seu dia, se estava a gostar da escola, se sabia que tínhamos um grupo de teatro que ensaiava após as aulas. Ele, surpreso, me indagou: “vais me dar um processo disciplinar?”. Indaguei porque imaginava que o receberia? Ele disse que sabia que eu o faria pois empurrou o colega.

Perguntei se ele desejava receber o processo disciplinar. Ele disse que não, que se entusiasmou. Respondi que me percebi disso e que o colega estava bem, que por isso estava tudo bem. Referi que tinha muita energia e que por isso eu precisava da ajuda dele. 

Contou-me que a mudança de escola foi por causa da separação dos pais. Disse que não via o pai há quase um mês e que a escola era muito diferente daquela que ele estudou desde o primeiro ano. Três informações que abriram um portal na minha mente.

Naquele momento, apercebi-me claramente de toda emoção que envolvia aquele rapaz exibido, que queria chamar a atenção.

Gosto de dizer que tive alunos que foram “merdas” para mim… que a princípio pareciam que eu não aguentaria o “fedor”, mas foram as minhas melhores revelações e me deram muita sorte!

Sabes o que acontece com João?

O fim dessa história no próximo artigo…

E tu, foste que tipo de aluno… ou é? 

 

Abraços Demorados

Tanise, a Diva. 

😃🌻

Tanise A Diva

Tanise A Diva

Uma vida com a arte/teatro no Brasil e hoje vivendo com a família em Portugal. 🇧🇷❤🇵🇹 Insta: @tanise_diva

Aqui no Bué Fixe tu tens Vez e Voz!

Vamos ficar Bué felizes se nos deres tua opinião a respeito novos Lugares Porreiros por Braga e sobre o nosso site.

Força! Escolhes o link que desejas abaixo e nos dá tua opinião.

👉Fale bem sem olhar a quem! – Lugares Porreiros

👉Tua opinião! – Bué Fixe

Vamos juntos fazer de Braga uma cidade muito maior do que já é!

Pois somos assim, Bué Fixe!