O principal instrumento de trabalho de um ator/atriz é o corpo. É preciso afiar esta ferramenta diariamente. Deves estar sempre atento a observar o mundo à sua volta e aberto aos estímulos. Viver experiências! Permitir-se chegar ao limite e identificar qual é o limite. E quando falamos sobre corpo, falamos sobre o corpo como um todo: dos pés ao couro cabeludo.

William Shakespeare disse: “O meu corpo é um jardim, a minha vontade, seu jardineiro!”. É possível passar a idade da personagem, o lugar onde ele está, a temporada do ano, o horário que a cena acontece, as emoções… praticamente tudo através do corpo. Explorar o corpo é dever daquele que anseia pelos palcos. E isso independe das suas limitações ou qualquer diversidade. Cada um explora o jardim que possui.

Era uma turma do secundário, idade que o corpo se torna um “problema”.

Saímos da infância e estamos no limbo chamado adolescência, antes da idade adulta. Eu retrato esta fase dessa forma pois é exatamente assim que eles, os adolescentes, durante anos, descreveram-na nas minhas aulas. A fase de desconstrução.

A fase em que vivemos diversos personagens durante o dia: acordamos como a bruxa má dos clássicos infantis, almoçamos como princesa da Disney, tomamos um café como fãs da banda de rock Metálica e jantamos como um cão com um espinho na pata. Ou seja, a intensidade aumenta à medida que o dia passa. (Sim, as princesas assustam-me mais do que bruxas más – risos).

Essa turma específica tinha uma característica que chamou-me a atenção: não gostavam de abraços. Depois de algumas atividades de jogos teatrais, notei a reluta da grande maioria no que diz respeito ao toque, neste caso, um simples abraço. Sabes aquele ditado popular: quando se não o quer, dois não fazem! Sim, era isto.

Considero o abraço o gesto mais terapêutico de todos. O abraço cura e nem reparamos. A ideia de sentir o coração do outro colado ao teu, porque esse é o abraço… Já parou para pensar? Abraças e o teu coração fica bem pertinho do coração do abraçado. Os corações se abraçam, é isso. Uma boa sensação que se espalha pelo corpo, fala mais de mil palavras.

Falei com eles sobre o facto e justificaram que era preciso intimidade para abraçar. Argumentei que se eles, que estudavam juntos o dia todo, cinco dias por semana, dez meses por ano, não tivessem intimidade… Quem teria?

Por que não permitir essa pequena intimidade a uma pessoa que não conhece? Que não tem relação? … de forma gratuita… como um “remédio” para os males da alma… do coração. Apenas para permitir-se a este gesto de humanidade que, aliás, até os animais o fazem.

O abraço é bom para aqueles que o fazem e para aqueles que o recebem.

Tenho o hábito de abraçar toda a gente, especialmente os meus alunos. Na chegada e partida, se possível. Então aquela situação entre eles provocou-me para estimular o abraço. Distribui vendas negras para a turma, para que todos não enxergassem. Coloquei uma música de fundo adequada e leve para acalmar a mente e criar um clima de harmonia.

Expliquei todo o processo à turma e eles concordaram em experimentá-lo. Deveriam simplesmente abraçar-se aleatoriamente. Sem dizer nada e com isso, sem identificar quem estava a abraçar. Apenas senti-lo. Sentir um abraço respeitoso e carinhoso. Sem pressa e sem escolhas. Então devem relatar como se sentiram. A turma aceitou e nós realizamos a atividade.

Houveram abraços rápidos e outros abraços longos e demorados. Havia emoção, vergonha e muitos sorrisos. E ao tirarem as vendas, relataram o prazer da atividade que, apesar da simplicidade, tinha muita profundidade. Muitos queriam identificar os que se abraçaram  através de perfumes, cheiros, cabelos, toque de pele, havia muita observação.

Quando bloqueamos um dos sentidos, aguçamos os outros. O abraço é o primeiro passo para relaxar o nosso corpo. Atores/atrizes sempre estão a abraçar uns aos outros, reparem nisso.

Como o resultado foi positivo, lancei um desafio: um dia de abraço grátis na escola! Durante o intervalo, a turma deve ficar no pátio da escola, de olhos vendados, e com uma placa pendurada no pescoço a dizer: abraço grátis! É tudo. Distribuir abraços a qualquer pessoa, sem saber quem era. Ficaram apavorados. Mas desafiar um adolescente a algo novo… é a certeza da experimentação. Aceitaram!! E na semana seguinte, a experiência aconteceu.

No próximo artigo desta semana, vou dizer-te como foi… e por que toda a rotina da escola foi mudada naquele dia!

Abraços demorados

Tanise, a Diva. 

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Tanise A Diva

Tanise A Diva

Uma vida com a arte/teatro no Brasil e hoje vivendo com a família em Portugal. 🇧🇷❤🇵🇹 Insta: @tanise_diva

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