Sugiro ler o artigo antes disso, a primeira parte. 

E Bia subiu ao palco. A rapariga de 13 anos estava a tremer, mas ela manteve a coragem dos grandes. Todo o elenco em silêncio absoluto, que eu nunca tinha visto acontecer até aquele momento. O caos silenciado. Uns de mãos dadas, outros fecharam os olhos, mas o público… Ah o público… isto era o mesmo, a sorrir e assistir cada cena sem ter a mínima ideia da complexidade do que estava a acontecer. E eu? Tinha um coração acelerado, a pensar em mil maneiras de ajudar aquela rapariga, caso precisasse. Mas algo dentro de mim sorriu. Algo me disse que era um momento enriquecedor e que um dia daria uma boa história.

Bia falou o primeiro discurso, houve insegurança na voz dela.

Na segunda frase, um bloqueio e o companheiro de palco ajudaram a improvisar. E, a partir daí, percebeu que não estava sozinha. Parece que a luz se levantou: ela relaxou e entregou-se. Falou o texto com a naturalidade daqueles que ensaiaram meses. Quando se enganava, pode consertar e corrigir a fala. E a cena tinha acabado, a Bia saiu do palco e veio na minha direção com o coração a sair-lhe da boca. Num tom suave, pedi-lhe que respirasse calmamente… disse o quanto me orgulhava dela. E, sem segundos, toda a gente no elenco estava a abraçá-la, a esmagar-me. (risos) Um abraço inesquecível de um grupo que ali nasceu: renovado e confiante.

O espetáculo precisava de continuar e Bia voltava ao palco sempre que a sua personagem era necessária. Nas últimas cenas, o caos já se tinha instalado: pessoas a falar nos cantos, pessoas a baterem-se umas às outras, pessoas a ouvir música com auscultadores, pessoas a comer, pessoas a viver! Naquele preciso momento, apercebi-me do quanto gostava do caos! (risos de novo) Como era leve e necessário.

As cortinas fecham-se e os aplausos seguem-se. As cortinas abrem-se e o elenco agradece ao casal novamente. Eles vão em pares, agradecem e ficam de lado. Pedi à Bia para vir comigo no final. Foi esclarecida. A rapariga que parecia tímida e não conhecia quase ninguém no grupo, era agora a favorita de todos. Foi o disputado. Andei de mãos dadas com o corajosa. A grande maioria do público não fazia ideia do que tinha acontecido, apenas os pais de Bia, que aplaudiam loucamente sem entender nada. Mas os outros não faziam ideia de quem estava na peça ou o que estavam a fazer. A menina recebeu cada vez mais aplausos, a maioria do próprio grupo, que aplaudiu e gritou.

Concordei com ela que ela não ia falar sobre o que aconteceu, não queria expor a Ana. Expliquei que todos temos as nossas batalhas individuais e julgar a outra seria um grande erro, porque amanhã podemos ser nós, podemos estar no lugar da Ana, nunca se sabe. É muito complexo o que se passa dentro de um ser humano. Bia concordou e disse que estava feliz pela retirada da Ana, já que esta era a sua oportunidade no palco. Escolhemos de que ponto de vista vemos uma história: escolhemos vê-la como oportunidade e aprendizagem. E todos concordaram quando expliquei mais tarde.

Os pais de Bia, com um enorme sorriso no rosto, queriam entender.

Expliquei a coragem da filha deles e a Bia discretamente ao meu lado. Os dois, emocionados, abraçaram a rapariga e pediram desculpa. Na altura, não compreendi e mais tarde a Bia explicou-me: disseram-me diariamente que ela precisa de ter a coragem de falar com as pessoas, de se envolver noutras atividades, que ela devia ser mais espontânea e ter mais iniciativa.

Que deveria, se… estas coisas que os pais falam pelo nosso bem, mas que, na verdade, às vezes têm o efeito oposto. Bia era assim: reservada, observadora, seletiva com os amigos. Mas isso não quer dizer que não tenha tido a iniciativa, a sua própria opinião e coragem. Era a sua maneira de ser! E aceitar como são as crianças… perceber que há força na quietude, força no silêncio… que tudo é uma questão de tempo, de oportunidade para emergir… Não é uma aprendizagem fácil.

Temos de abandonar os PRÉ-conceitos que temos, abandonar a forma como acreditamos que deve ser. E para perceber os diamantes que a vida nos dá… e que pensamos que são rochas. A Bia ensinou-me muito numa noite. Com essa experiência, o meu olhar mudou. Vejo diamantes por todo o lado. E quanto à Ana, ela voltou, pediu desculpa e ganhou um papel com um peso muito menor. No início, estava relutante, mas percebeu que precisava de dar um passo de cada vez. Há alunos que são estrelas nos ensaios e quando estão no palco saem, e há o oposto. Mas isso é negócio para outro dia… 

 

Abraços Demorados!!

Tanise, a Diva. 

😃🌻

Tanise A Diva

Tanise A Diva

Uma vida com a arte/teatro no Brasil e hoje vivendo com a família em Portugal. 🇧🇷❤🇵🇹 Insta: @tanise_diva

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