– FIM –

Aconselho-te ler a Parte I dessa história, disponível no artigo anterior a este.  

Alicia chorou. Inconformada, implorou por outro papel. Foram meses de ensaio até que se apercebeu da importância do seu personagem. Ser a “árvore” da história significava muito: foi quem falou com todos em cena, esporadicamente. Foi quem deu segurança para os demais personagens que entravam e saiam.

Alguns, inclusive, esqueciam das falas e Alicia, enraizada em todas as cenas, improvisou e salvou toda a gente. Apresentamos diversas vezes, em teatros diferentes. Alicia ganhou confiança e, depois de muito tempo, compreendeu as lições que o personagem lhe tinha dado.

Sendo uma rapariga muito ativa, inquieta e carente: aprendeu a observar e escutar mais, a “ficar parada” e estar bem.

Aprendeu que independentemente do tamanho do papel que recebemos: nós é que fazemos ele grande!

Aprendeu que árvores se comunicam com toda a natureza e isso é cientificamente comprovado. Aprendeu a respirar calmamente e a acalmar o corpo através da respiração. Aprendeu que os ramos das árvores se movimentam com o vento, por isso não havia necessidade de ficar completamente imóvel. Aprendeu que podia ajudar muita gente, mesmo que não saísse do lugar.

Ainda assim, ser a “árvore” tornou-se motivo de riso. Até hoje, quem sabe disso, brinca com a ideia. “Foste uma árvore na peça de teatro?”. Em geral as pessoas, quando não conhecem o histórico, o percurso que fizemos, os motivos que nos levaram àquilo, as lições que aprendemos, a importância que teve na nossa vida… elas gozam. E temos que rir junto, por que é apenas desconhecimento do contexto. 

Ser a árvore foi essencial para Alicia. Ela precisava disso na época e foi transformador. Alicia cresceu, tornou-se bióloga e Mestre em Educação Ambiental, que ironia. Defensora árdua da natureza.

A minha primeira aluna tornou-se a amiga que encheu a minha vida com vida. Motivou-me a seguir o caminho da arte. No seu casamento, a vi entrando na igreja e um filme passou-me pela cabeça: a criança inquieta e carente, que sentava insistentemente no meu colo sem pedir, tornou-se aquela mulher determinada, altiva e com ares de autoconfiança.

Anos mais tarde tornou-se uma mãe zelosa e amorosa, um legado que recebeu dos pais que também o eram. Hoje, ela é professora e conta-me como o teatro foi um divisor de águas na sua vida. Como foi importante na construção do seu Ego, da sua natureza.

Aquela criança escondia uma baixa autoestima disfarçada de inquietude.

Permanecer no palco, enfrentando todos os olhares permanentes da plateia, é desafiador. Ao mesmo tempo, estar atenta a tudo o que acontece para apoiar os colegas de cena, é generosidade e é o tal jogo no teatro. Dizemos que quando um ator/atriz não “joga”, o espetáculo desanda. É como um bolo que no auge do crescimento, murcha.

É necessário que todos, dentro e fora do palco, estejam interligados pelo olhar, pela energia, pelos personagens, pela respiração. Então sabemos quando um parceiro de palco não está bem, quando não está lá na sua totalidade…por isso é preciso sempre apoiá-lo, por que ninguém está bem o tempo todo, isso não existe. É como uma família. E família está sempre a apoiar-se, pelo menos deveria ser, não é?

Muito orgulho da Alicia, que deu belos frutos nessa vida. A primeira aluna nunca esquecemos. Aprendi que as maiores lições surgem daquilo que mais nos incomoda. Mas tens de estar disposto a aprender, permitir-se.

E você, já teve um papel assim na sua vida? Qual foi a sua “árvore”? O que o fez parar, observar, respirar e refletir?

Conta-nos aqui abaixo, nos comentários, será uma alegria conhecer também a sua história!

Abraços demorados

Tanise, a Diva. 

😃🌻

Tanise A Diva

Tanise A Diva

Uma vida com a arte/teatro no Brasil e hoje vivendo com a família em Portugal. 🇧🇷❤🇵🇹 Insta: @tanise_diva

One Comment

  • Avatar Simone Sbaraini disse:

    Lindo relato!! Linda vivencia oportunizada pelo teatro. Muita sensibilidade da parte da autora em criar experiencias que curam. Parabéns!!!

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