Como se sente quando precisa falar em público? Teu coração acelera, começas a suar, a ansiedade aumenta, sentes o pescoço e os músculos das costas rígidos, tens tremores no corpo, tens uma dor de barriga, a boca fica seca e, em casos extremos, tem náuseas e vômitos? A tua voz é trema ou fraca? Ou faz parte um grupo raro e selecionado que respira feliz e fala calmamente?
A maioria das pessoas, na maior parte das vezes, fazem parte do primeiro grupo que descrevi: aqueles que literalmente adoecem quando precisam de falar em público. E isso tem nome: GLOSSOFOBIA! Fobia de falar em público.
Há muitas fobias já descobertas e certamente muitas ainda por descobrir. Mas a glossofobia é muito comum. Fobia nada mais é do que medo de algo. Em algumas pessoas é mais intenso e até prejudica a vida em vários aspectos.
O teatro é uma excelente ferramenta de cura para esse tipo de fobia.
A exposição ao olhar do outro, a postura, a projeção de voz, a confiança em si mesmo, tudo isso pode ser trabalhado na arte.
Nos primeiros encontros com os alunos, levava-os ao auditório da escola e convidava para que cada um se apresentasse para a turma no palco, sozinho. Podia ver no olhar de todos o pânico instalado. A ideia era essa: perceber o quanto isso incomodava. Muitos já antecipavam: “não vou fazer isso em palco”, “o que acontece se eu não for?”, “pode ser em pares?”, “pode ser na próxima aula?”. Alguns nem podiam falar nada, com o medo da situação. Como mudar isso?
Tenhas a certeza que eu não os obrigaria a essa exposição. É preciso trabalhar a autoestima, autoconfiança. E, quem sabe, descubra quando esse medo começou, que idade, que situação causou o agravamento. No início, parecem informações difíceis de obter, mas não são. Através de atividades de improvisação, jogos teatrais e muita conversa, normalmente descobrimos.
As respostas surgem quando menos se espera, voluntariamente. Mas também podem não surgir e tens de continuar a trabalhar. Por que a glossofobia muitas vezes é de um trauma experimentado pelo individuo ou por baixa autoestima ou pela ansiedade que tem aumentado ao longo do tempo. Na verdade, a ansiedade é a base para inúmeros problemas hoje em dia, mas isso é assunto para outra conversa.
Começou com um simples exercício: um de cada vez deveria subir no palco e não havia necessidade de dizer nada, apenas aceitar os aplausos. O resto do grupo, de pé, aplaudia-o por um certo tempo. E a pessoa só precisa aceitar, o que não foi fácil para muitos. Ser aplaudido e não poder aplaudir em conjunto: é um grande exercício de aceitação. Faça isso no seu aniversário: deixe-se aplaudir e apenas receber os aplausos. Lembras-te quando escrevi sobre o poder do elogio? Ser aplaudido é um elogio: aceitar é fundamental.
Então, sentados em círculo, uma pessoa sentava-se no meio. Todos no grupo deveriam dizer qualidades, algo que gostassem nessa pessoa, em suma. As qualidades foram repetidas e a pessoa no meio estava apenas a ouvir.
E ouvir coisas boas sobre ti é assustador, ficamos surpreendidos e com dúvidas.
Mas quando mais de uma pessoa diz a mesma coisa boa, a dada altura começas a creditar. O mesmo vale para o contrário. É por isso que temos de nos policiar tanto quando falamos com as pessoas: palavras motivam-nos ou destroem-nos, sem mais nem menos. Não há meio termo.
Depois de ouvir tantas qualidades, a pessoa do meio do círculo poderia dizer algo: agradecer ou discordar. Foi lindo ver o grupo a lutar pela pessoa, tentando fazê-la perceber as coisas boas que possuem. Os adolescentes fazem-no muito facilmente. Quando se unem para o bem, ninguém segura. E o contrário também. Não é preciso conhecer a pessoa durante anos para elogiá-la. Assim que a conheceres, reparas no sorriso, na energia. A nossa energia apresenta-nos antes de abrirmos a boca.
Então, subir ao palco e dizer teu nome, algum gosto musical e mais informações, estava a tornar-se mais fácil. Construindo pequenas cenas e atuando no palco, tornou-se mais fácil. O medo de falar em público não termina de um momento para o outro. É um processo sem pressa e, quando menos perceberes, torna-se mais fácil.
O frio na barriga sempre existirá, sem dúvida. Mas sem sofrimento. Sem evitar a situação. Sem isso prejudicá-lo em qualquer sector da sua vida.
O importante é não deixar que o medo te impeça de viver intensamente tudo o que a vida lhe oferece. Ele pode existir de alguma forma, mas podes geri-lo, vesti-lo… e viver com ele em paz. Até que um dia nem te apercebes que ele já não existe.
Se acreditas que tens glossofobia, te aconselho: vai fazer teatro!!
Abraços demorados
Tanise, a Diva.
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