“Professora, sabe o lugar que eu mais gosto de estar, além do meu quarto? A sala de teatro!” Já ouvi frases assim diversas vezes. Trabalhei com adolescentes durante quase trinta anos, como professora de teatro e arteterapeuta. Acredito, fielmente, no poder transformador da arte sobre as pessoas. 

Arteterapia é uma prática terapêutica que utiliza a arte e os seus recursos imagéticos, como intermediários entre os processos cognitivos e afetivos do sujeito, visando a integração entre consciente e inconsciente na reestruturação de comportamentos e ações. 

Um processo dinâmico, espontâneo e criativo que favorece a expressão simbólica de sentimentos e emoções através do fazer artístico, induzindo ao autoconhecimento. Tal processo possibilita ao adolescente desenvolver a habilidade de observar e refletir sobre os vários momentos da vida, permitindo-lhes assim descobrir e desenvolver sua identidade e estilo pessoal. 

Ao longo dos anos, percebi que os adolescentes aprendem a ordenar seu mundo interior e exterior, dando forma e estruturando seus sentimentos e emoções através do teatro. As artes cênicas são uma porta sempre aberta para o simbolismo. Tudo é simbólico! O personagem que escolhe representar, o figurino, a movimentação em cena, a altura de voz, a maquilhagem criada, as improvisações tão espontâneas e tão reveladoras. É possível fazer uma leitura clara e rápida: perceber o estado de espírito da pessoa, a tristeza, a alegria, o pedido de socorro! Atividades simples podem ser reveladoras.

Por um tempo, autorizei os alunos a escrever nas paredes na sala de teatro em uma das escolas para as quais eu trabalhava.

Tudo com o apoio da coordenação e da direção da escola. Os alunos vinham às aulas e eu dizia: “quem quiser e tiver vontade, pode pegar a caneta de quadro e desabafar nas paredes”. E seguia com minha aula.

Em princípio, era simples, porém embaraçoso. Mas, com o tempo, tornou-se essencial para muitos. Entravam na sala e corriam direto para o canetão. Tinha tudo nas paredes: “perdido”, “preciso de carinho”, “feliz da vida”, “#partiufugirdecasa”, “eu amo…”, “devolve a minha paz”, e assim por diante.

Surgiram frases de grandes pensadores. Muitos alunos pesquisavam em casa para colocar na parede exatamente o que estavam a sentir. Através dessas frases, descobri angústias, dúvidas e alegrias que podiam ser trabalhadas e divididas entre todos, já que muitos estavam vivendo a mesma emoção! 

Quando se aperceberam disto, reconheciam que era mais fácil viver com as dificuldades que eram compartilhadas. Havia respeito, a percepção do outro, o desejo de ouvir mais e falar menos, abraços, gritos e grandes gargalhadas. Todas as paredes foram escritas, do teto até a porta!

No outro ano, pintei a sala. Não havia mais espaço, não seria justo para com aqueles que estavam a chegar. As paredes eram brancas de novo. Os alunos enlouqueceram e questionavam o tempo todo a razão da mudança. Eles queriam escrever nas paredes! Já os novos alunos ficaram encantados com a sala que tinha até um pequeno palco.

Conversamos muito e fizemos outra proposta:  transformar as frases, o que seria escrito, em cenas espontâneas. “O que tu pensaste em escrever na parede, mostras no palco, convidas alguém para te ajudar”, encorajei. E as cenas aconteciam, uma após a outra, nos últimos momentos das aulas. Além de trabalhar na questão da improvisação, a base do teatro, incitava-os à exposição ao público, à autoconfiança, à projeção de voz.

Tudo aconteceu naquele momento terapêutico involuntariamente e inconscientemente.

Mostrar que mudanças são necessárias e fazem parte da vida, mesmo na sala de teatro, é fundamental. É possível encontrar novas formas de expressar o que sentimos e essa busca é interminável. Isso é arteterapia! O que mais importava era o processo e não o resultado. O que mais importava era não ver toda a sala “pintada com palavras”, mas tudo que acontecia enquanto cada palavra era escrita.

Hoje, quando falo com meus ex-alunos, a maioria adultos hoje, lembramos-nos de tantas atividades que marcaram esse momento de inconstância chamada adolescência. Memórias cheias de risos, emoções e saudade. Coisas que só nós vivemos e só entende quem viveu. Por que esta era única regra: o que acontece na sala de teatro, fica na sala de teatro, nas paredes das emoções.

Abraços demorados

Tanise, a Diva. 

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Tanise A Diva

Tanise A Diva

Uma vida com a arte/teatro no Brasil e hoje vivendo com a família em Portugal. 🇧🇷❤🇵🇹 Insta: @tanise_diva

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