Parte I

O teatro desempenha um papel essencial na cultura do cuidado e do afeto. Desenvolver segurança e confiança nas oficinas de teatro é primordial. Quando falo em cuidado, falo de perceber-se… conhecermo-nos melhor… dar atenção a si mesmo… respeitar-se… acolher-se como ser humano! Quando falo em afeto, falo em demonstrar as emoções ou sentimentos por alguém e que acabam por nos ajudar a entender o mundo e as pessoas.

Há pessoas e lugares que nos fazem sentir seguros. E, portanto, trazem-nos confiança também. Quando estamos seguros e confiantes, conseguimos ser a nossa melhor e mais verdadeira versão. No teatro, no palco, num espetáculo, numa improvisação… isso faz toda a diferença! Um elenco seguro é um elenco livre, aberto e disponível.  

Gosto de um simples exercício de confiança, que realizo com todos os grupos. É um jogo que deve ser repetido de tempos em tempos, por que a segurança e a confiança mudam de um dia para o outro. Vou contar-te a história de uma turma do secundário que realizou esse exercício.

A turma estava ansiosa pelo que aconteceria naquela terceira semana de aulas de teatro. Pedi-lhes que fizessem um grande círculo para as explicações do jogo. Uma pessoa deveria ficar no centro do círculo. Essa pessoa precisa manter os pés juntos, braços cruzados no peito e olhos fechados. O grupo deve aproximar-se desta pessoa a fim de segurá-la.

A pessoa no meio deve se soltar na confiança de que os colegas que o rodeiam vão segurá-lo e voltar ao centro. É como um relógio onde os ponteiros, apesar de firmes, estão presos no meio e soltos nas extremidades. A pessoa, literalmente, deixa-se cair na certeza de que não chegará ao chão porque confia que os colegas à sua volta vão segurá-lo.

Notei alguns alunos a dobrarem os joelhos ou a inclinarem-se para frente e para trás (é preciso ficar como uma árvore ao vento, apoiada apenas nas raízes, que são os pés) e encorajo-os a confiar no grupo e se soltar. Mas as vezes não acontece na primeira vez, faz parte do processo. É por isso que é preciso repetir essa dinâmica de tempos em tempos. 

Geralmente as pessoas que são vítimas de bullying no grupo, não se soltam, não confiam.

Claro que isso não é uma regra, é uma percepção de anos de experiência com adolescentes. Mas o que quero relatar é precisamente o oposto. Dani, como lhe vou chamar nessa história, era um adolescente isolado da turma. Era muito reservado e tímido e não fazia qualquer esforço para mudar isso. Dizia que gostava de estar sozinho, era o discurso habitual quando eu estimulava a inserção no grupo.

Dani já me surpreendeu quando concordou em ir para o meio do círculo. Todos prepararam-se e aproximaram-se para segurá-lo. Os olhares revelavam a dúvida da entrega do colega introvertido no jogo. E, para surpresa de todos, Dani relaxou e deixou-se cair. E assim foi assim por alguns minutos intermináveis e surpreendentes. Aproximei-me para tentar compreender aquela evolução instantânea. De olhos fechados, ele estava relaxado e entregue ao grupo. Inicialmente fiquei feliz demais. Mas minha felicidade acabou nas primeiras palavras de Dani quando pedi para terminar e trocar a pessoa do meio.

Ele abre os olhos e diz: por que não me deixaram cair? (zangado). Todos ficaram sem saber o que dizer. Salientei que esta era precisamente a ideia: não deixar cair! Ele continua: eu estava o tempo todo pronto para bater com a cara no chão, vocês me decepcionaram. Pensa no silêncio da turma. Pedi-lhe que explicasse o que queria dizer com aquilo. Por que deveríamos deixá-lo cair? Por que esperava por isso? Se ele achava que merecia isso!  

A resposta de Dani eu conto no próximo artigo.  

“O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós.” (Jean-Paul Sartre)

 

Abraços demorados

Tanise, a Diva. 

😃🌻

 

Tanise A Diva

Tanise A Diva

Uma vida com a arte/teatro no Brasil e hoje vivendo com a família em Portugal. 🇧🇷❤🇵🇹 Insta: @tanise_diva

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