Seguindo os relatos de setembro, eis o meu filho, sobre a sua experiência com o teatro:
“O teatro começou, para mim, como algo que estava totalmente fora da minha zona de conforto. Digo isto porque nunca fui alguém que gostasse de exposição e, apesar de ser o filho da professora de teatro, sempre fui alguém mais introvertido, tímido e de poucas palavras. Apesar de todas essas características, passaram-se já 12 anos desde a minha primeira aula. Todo este tempo todo ao lado da professora Tanise, a minha mãe.
Com o teatro aprendi não só a comunicar melhor com os outros, quer artisticamente, quer em nosso dia a dia, mas especialmente comigo mesmo. O teatro empodera. Se quando comecei pensei que só porque era tímido não me encaixava ali, hoje eu sei que ser tímido é apenas uma parte de mim , não me limita e nem decreta o que consigo ou não fazer. O teatro ensinou-me, e encorajou-me a ser melhor comigo mesmo. Algo que é sempre dito no teatro é que somos o nosso principal instrumento, comandantes da nossa mente e corpo.
As aulas sempre serviam de terapia, ali eu extravasava e libertava-me de todos os sentimentos que estava enfrentando. Às vezes nem sabia o que era, mas fazer teatro ajuda a “anestesiar” um pouco o tempo, nem sequer o via passar e já me sentia diferente de quando havia começado a aula. As atividades que faziam assim eram das muito divertidas, como o “Pato” (dinâmica de exposição que gerava muitos risos e improvisos), às mais introspectivas, como as “mensagens no espelho” (dinâmica que sempre resultaram em choro e catarse).
Algo que sempre fui questionado era essa relação mãe e filho dentro da sala de aula, afinal, eu teria algumas vantagens (ou não?!).
No fim, eu sempre pedia para não ser o protagonista, preferia estar lá por simplesmente estar. Mas como tudo é um processo e no teatro, como disse no início, ajudou-me muito a quebrar esta zona de conforto, fui o protagonista apenas na minha última peça na escola, no último ano do secundário. A ideia de ser o principal, ou um dos principais da peça, não era o mais importante para mim. Mas na vida acho que é importante termos esse espaço para brilhar e ainda mais, de saber como deixar os outros brilharem. O teatro também ensina isso. E tudo tem o seu tempo para acontecer.
Hoje sou aluno do 3° Ano de Psicologia na Universidade do Minho (Braga – Portugal), tendo esta sido a minha terceira escolha de curso e acho que finalmente consegui acertar. Penso que essa escolha tem tudo a ver com o que o teatro me proporcionou, que o autoconhecimento que se adquire, a empatia que se desenvolve e toda a abordagem terapêutica que se é acompanhada, ajuda qualquer pessoa a ter uma visão diferente sobre si e sobre o outro. A visão de que somos humanos, e somos sim fortes, mas, acima de tudo, de que somos todos vulneráveis. A professora/mãe sempre dizia que todos podem estar a enfrentar uma tempestade neste momento e a viver suas batalhas pessoais, por isso a importância de ser gentil sempre.
Enfim, eu indico teatro a todos os que pretendem viver melhor consigo mesmo, que desejam descobrir-se, olhar para dentro de si mesmos. Acho que esse foi o principal legado que o teatro me deixou: ao longo do tempo aprendemos que precisamos ser gentis consigo mesmo, olhar-nos ao espelho e reconhecer que fez o seu melhor, que está bonito e/ou que está orgulhoso de si mesmo. Essa foi e é a lição que levo das aulas.”
Nathan Pacheco Falcão Sperinde
22 anos
Estudante de Psicologia
UMINHO, Braga/ Portugal
Abraços Demorados
Tanise, a Diva.
😃🌻