Sugiro ler a primeira parte desse artigo na publicação anterior.

O abraço coletivo aconteceu. Rose, emocionada, agradecia sem parar. Sentamo-nos em círculo no chão e o silêncio paira no ar. Olhares envergonhados revelavam o desconforto da situação, por que o momento do abraço e dos elogios foi impulsivo e para adolescentes, sem dúvida, foi um ato de muita intimidade. A turma que era dividida em grupos a fins, de repente estava diferente. Todos sensibilizados pela mesma causa. Perguntei se Rose gostaria de dizer alguma coisa. E o relato começou.

Um concurso de beleza coloca-te num nível diferente dos demais. Por que, ao contrário de uma prova ou exame, onde depende do seu esforço e dedicação, é algo que você não tem controlo ou escolha: a pessoa nasce simplesmente como é, e se ela se encaixa nos padrões de beleza que o mundo dita, as chances são muito maiores e mais privilegiadas, segundo ela.

Manter-se nos padrões sugere ser mais difícil do que alcançá-los, ou seja, se tiveres a melhor nota da turma, a maneira de chegar a isso é árdua, sem dúvida, no entanto, consegues e acabas. Mas manter-se sempre assim, com a melhor nota, é uma tarefa que não tem fim. E é disso que Rose estava a falar. Sobre o cansaço de manter-se.

Sobre não ter escolha na cor dos olhos azuis e o cabelo claro e o sorriso perfeito e a altura que a destaca… sobre suportar a pressão de ser “forçada” a se candidatar por causa dessas características que, segundo ela, a distanciavam das demais raparigas da sala.

Estava exausta de ser sempre nomeada para o papel de Maria nas apresentações religiosas do colégio. Cansada de ser convidada a ser a “noivinha” da festa de São João (encenação típica brasileira no mês de Junho).

O desabafo de Rose saia de sua boca sem filtro. E toda a gente a ouvir em silêncio.

“Eu não gosto de quem eu sou! Eu nem sei direito quem sou! Sou o que as pessoas esperam que eu seja. Mas não estou feliz. Olho-me no espelho e não gosto do que vejo.”

A baixa autoestima é um sentimento que só quem vive sabe. Quem está de fora, não consegue compreender o quão complexo isso é. Mas o que perpassa dentro de cada pessoa é sempre complexo! Por isso a importância de sempre, sempre manter a gentileza como um fio condutor na nossa vida. Todos vivemos batalhas que os outros não fazem a menor ideia. E o julgamento, o PREconceito e o “diagnóstico precipitado” são vícios da humanidade.    

Perguntei à Rose o que gostaria de mudar a partir daquele dia. Ressaltei que terceirizar a culpa é um péssimo caminho e posterga tudo, e que já estava na altura dela, aos dezessete anos, abraçar a vida com os dois braços e com força, descobrir como ela realmente é, do que gosta e, principalmente, do que não gosta. Trabalhar a sua autoestima é trabalhar a sua força interior. É perceber do que é capaz e permitir-se vivê-las sustentando a sua escolha.

Rose disse que queria que esse concurso de beleza acabasse. Que ninguém deveria ser enaltecido por padrões que a sociedade impõe. Que há beleza em todos os corpos, em todos os olhos, em todos os cabelos, em todas as alturas. Respondi que iríamos começar por aí então.

No dia posterior, falamos com o conselho e coordenação escolar. Rose deu um relato emocionada. E a emoção contagiou a todos. Aperceberam-se que nunca haviam refletido sobre isso. Que os tempos mudaram sim. Que era uma tradição sem sentido. Que certamente trazia mais dor do que o contrário. Também autorizaram uma equipa de futebol feminino, um sonho revelado por aquela rapariga que ninguém imaginava correndo a suar atrás de uma bola.

A psicóloga do colégio conversou com os pais de Rose, que não ficaram surpreendidos.

Rose seguiu nas aulas de teatro. Só queria papéis desafiadores. Uma vez implorou pra ser uma múmia numa peça. Passou todo o espetáculo enfaixada dos pés à cabeça e feliz da vida. Disse que nunca tinha se divertido tanto em cena.

Então, as aparências enganam, em muitos aspectos. A autoestima não está naquele que invade a sala aos gritos, chamando a atenção de todos. Não está naquele que se veste lindamente. Não está naquele grande orador. Mas pode estar! Esse é o ponto. É preciso estar alerta. Observar. Como já disse, feridas doem e a dor ninguém consegue disfarçar ou negar por muito tempo.

Viva a sua verdade. O mais rapidamente possível. Não te ponhas em sítios onde os outros pensem que te encaixas. A escolha é sua! Porque no fim desse caminho que todos estamos, cabe-nos apenas a nós “naquela caixinha”.

Conheça-se! Experimente! Experiencie!

Abraços demorados

Tanise, a Diva. 

😃🌻

Tanise A Diva

Tanise A Diva

Uma vida com a arte/teatro no Brasil e hoje vivendo com a família em Portugal. 🇧🇷❤🇵🇹 Insta: @tanise_diva

One Comment

  • Avatar Ariadne disse:

    Quando os colégios propõem concursos de beleza, de notas ou de qualquer outra natureza, colocam adolescentes uns contra os outros, e isso os pressiona num nível muito mais nocivo do que serve para estímulo ao estudo.
    Até quando vamos conviver com a tortura desses jovens seres humanos, destruindo sua autoestima?

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