Eis mais um relato de ex-alunos/as sobre a experiência nas aulas/grupo de teatro…
“O teatro na minha vida começou de forma bastante tímida e sutil, ironicamente ou não. Ao ingressar numa nova escola em 2010, dentre muitas novidades que encontrei, uma delas foi o Teatro como parte da grade curricular, algo que nunca havia experimentado antes. Começava ali o que jamais imaginava viver: uma vida onde o Teatro se faria presente quase diariamente.
Passaram-se dois anos a frequentar as aulas obrigatórias, mas isso não me pareceu forçado, até que tivemos uma trocar de professor. Entrava aquela que mudaria ainda mais minha perspectiva sobre a arte no cotidiano da escola. Com cabelos rosa choque e uma energia ímpar, Tanise, autora dos textos da Bué Fixe, entrava não só na sala de aula, mas também na vida de cada adolescente que lá estava, incluindo em especial a minha.
Aquele foi o ano de conhecer mais sobre o fazer teatral, muito além de palcos.
Foi a descoberta do teatro da vida, da arte terapia, da performance, e das muitas descobertas do “eu”. A cada aula saía mais apaixonado pelo teatro. 2013 seria o ano de mais um passo importante na minha jornada Teatral. Logo no início, num dos primeiros dias de aula, a encantadora “prof” veio conversar comigo sobre as oficinas de teatro, que aconteciam à tarde, e não eram vinculadas à disciplina curricular (obrigatória).
Fui convidado a embarcar em mais uma aventura artística. Eu já estava ciente de tal atividade, porém aquele convite veio como uma convocação, pois no meu íntimo sabia que aquele era o lugar onde eu queria estar. E assim foi. Semanalmente reuníamo-nos para desenvolver outras ideias, que por vezes não se enquadravam no currículo, e desafiavam a nós alunos-artistas. Disso nasceram duas criações marcantes: uma cerimônia de abertura e um musical.
Esse foi o ano em que nos aventuramos pela primeira vez, cruzando o estado, 7 horas de autocarro até uma escola de circo, onde aprendemos técnicas básicas circenses e nos divertimos muito. Foi daí, com figurinos vendidos pela companhia de circo e com as técnicas aprendidas, que no mesmo ano criamos e apresentamos a abertura das Olimpíadas Nacionais da Escola (Brasil), recebendo centenas de atletas de outras zonas da região.
Com muita magia e imaginação nascia um amor incondicional pela arte.
Depois foi a vez de apresentar o Musical da Família Adams, construído durante aquele ano, num encontro de escolas. Foi um grande marco para o jovem artista que crescia em mim. O ano seguinte não foi diferente. Novos desafios escolares, e com isso, novos desafios teatrais. Desta vez, nosso colégio seria a sede do grande evento de teatro do agrupamento, com grupos vindos de diferentes zonas para apresentar suas criações, incluindo o nosso próprio grupo. Seguindo o que a professora já estava a criar, o espetáculo, de autoria da mesma, se passava no circo.
Enquanto o desafio dela era coordenar 80 alunos em cena, num espetáculo que envolvia dança, acrobacias, malabarismo, entre outras técnicas, meu desafio provou ser o maior da minha vida até então. Eu seria o protagonista da narrativa, que foi construída sobre uma espécie de “flashback” da vida desse personagem, e resultava na sua compreensão de que ele podia sim ser feliz, apesar dos seus traumas e desafios.
Uma jornada de um herói amargurado, rude, que ao final gritava ao mundo: “Autorizo-me. Autorizo-me a ser feliz!” Linhas de texto que ecoam até hoje na minha memória, tatuadas na minha pele, como uma lembrança do que a arte me fez entender. Foi mágico, aterrador, desafiador, e principalmente, libertador.
E assim passaram os anos, com performances, flashmobs, jogos teatrais, tudo que me mantinha firme nesse que era (e é) o meu lugar no mundo. O ano era 2016, último ano de escola, já no secundário, e aí vinha a última grande criação do grupo, com a mesma professora. O desafio agora era montar uma adaptação do icônico musical da Broadway “Cats”, e que contaria um pouco da trajetória de cada integrante do elenco. Esse era o grupo que estava lá desde o início, e construiu grandes produções, e memórias ainda maiores do que eram os últimos anos de uma fase muito importante da vida de um jovem.
Não só isso, foi um ano de perda irreparável na minha trajetória.
Lá estava esse grupo como um apoio forte e presente. “Gatos”, como chamamos a nossa versão, iniciava como a sua inspiração estadunidense, mas desdobrou-se com canções do cancioneiro popular brasileiro, como disse, falando um pouco sobre cada integrante daquela família que então se separaria para seguir, cada um o seu caminho. Detalhe: mais uma tatuagem nascia de um espetáculo que marcou minha jornada Teatral.
No ano seguinte, andei na universidade. E embora possas pensar que entrei para o teatro, o facto é que eu estava a começar uma breve história na Engenharia Física. Apesar de saber que aquele não era o meu lugar, atendi às expectativas da família. Isto não durou muito tempo, e acabou por dar origem um ano sabático, de muita reflexão e renovações internas. Desisti do curso e decidi lutar por aquela que era minha paixão: o Teatro.
Foi então que em 2018 entrei para a universidade de teatro, onde conheci pessoas que partilhavam da minha paixão e onde aprendi muito mais. Foi lá que vi como o que se aprende no teatro pode sim ser usado no cotidiano, no modo de vida, de observar o mundo e de vivê-lo. Admirar as pequenas coisas da vida, conectar-se com as pessoas, pelo olhar, pelo gesto, e respeitar a jornada de cada um. E este não é o resultado. Eu ainda estou no processo. Teatro é esse processo. É descoberta. É observação. É permitir-se. É viver.”
Patrick Timotheo
23 anos
Criador de Conteúdo, Professor e Suporte ao Cliente
Braga, Portugal
Abraços Demorados
Tanise, a Diva.
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