Consegues imaginar uma plateia todinha de bebés? Cada um no colinho da mamã ou do papá ou ambos, mas o público-alvo da peça são os bebés, ou seja, com, no máximo, dois anos de idade. A montagem de tal espetáculo é, sem dúvida, um desafio. Mas, inesquecível.

O desafio foi lançado: realizar um espetáculo para o berçário! Convidei alunas do secundário e começamos a tarefa. Personalizamos uma enorme caixa de cartão. Depois de criar algumas pequenas janelas arredondadas, cobrimos a caixa com pano colorido.

Juntamente com a professora de música da Educação Infantil, escolhemos algumas canções que as crianças já conheciam e trabalhamos uma história. Ficamos a imaginar como será a reação com os objetos escolhidos, imaginar se haveria muito choro, por que esse é contagiante nos bebés, quando um chora, geralmente os demais começam a chorar também.

É intrigante apresentar-se para uma plateia como esta: diferenciada.

Escolhemos t-shirts de cor única e cada atriz tinha a sua cor. Como nenhum menino se voluntariou, o grupo fechou-se em cinco raparigas. Os ensaios aconteciam aos sábados pela manhã. Então, era preciso muito comprometimento para ter a presença de adolescentes nesse dia e horário. E todas, comprometidas, construíram e ensaiaram a peça. Tive muita sorte: todas eram dedicadas, responsáveis e doces!  E à professora de música da Educação Infantil, que pôs à nossa disposição o seu talento e genialidade: a minha eterna gratidão!

Um teatro para bebés é multissensorial, repleto de música e cor. Estimula a aprendizagem e a integração social através dos sentidos. Nosso material eram marionetas, lenços coloridos, bolhas de sabão, baldes com água e aves de espuma pendurados em varinhas. Sentados em círculo à nossa volta, a caixa grande no meio com algumas atrizes lá dentro, a trilha sonora gravada anteriormente, o desafio começou. Foram quatro meses de preparação e ensaio.

Das janelas arredondadas da caixa saiam os pássaros a cantar. Os bebés observavam tudo com muita atenção. Alguns começavam a chorar e logo eram confortados pelos pais que interagiam com as músicas. Esse tipo de espetáculo precisa de uma grande união com os pais. Até que a criança se sinta confortável, pode levar um certo tempo.

No decorrer da história as atrizes saiam da caixa a cantar, sem pressa…e as demais colocavam os baldes de água (que estavam estrategicamente próximos) posicionados nos lugares combinados. Na canção da “Baleia” que gostava de dar TIM BUM na água…as atrizes davam esse TIM BUM com mãos na água e logo vimos bebés a aproximarem-se e colocarem as sua pequeninas mãos na água também. E aqueles que ainda não andavam, levava-se o balde a sua frente e a festa seguia-se.

Uma alegria molhada e contagiante pelos risos.

Havia a canção do vento onde as bolhas de sabão faziam a festa. A música das cores onde os lenços destacavam a aprendizagem. Bebés enrolados nos lenços… arrastando… pisando em cima… esfregando no rosto… tentando comer… (risos). 

Mas havia outro espetáculo a decorrer ao mesmo tempo: com os pais! Observava aquelas mamãs e papas, visivelmente cansados (noites mal dormidas, quem tem filho sabe do que falo nessa idade), ao mesmo tempo felizes e leves… esquecendo o mundo à sua volta. Rolando pelo chão, deixando os filhos caminharem por cima, permitindo-se molhar e sorrir. Risos altos que tentavam se controlar. E quando um bebé chorava, retirava-se por uns instantes e retornava mais calmo. Era um pensamento de grupo. As crianças saltavam, tentavam entrar na caixa, espreitar pelas janelas: tudo era permitido. Afinal, a caixa era para isso mesmo: para experimentações!

Ao final do espetáculo, declarações de mães e pais alegres por simplesmente vivenciarem esse momento com o seu bebé. É a tal da memória afetiva: é quando os seus sentidos entram em contato com algum elemento que desencadeia uma memória. E colecionar memórias afetivas positivas é um tesouro que só o tempo explica a sua importância.

Quanto às alunas participantes, a maioria estava no último ano do secundário e estavam a se apresentar para o início, o primeiro degrau da vida escolar: o berçário. Então, foi reflexivo para todos. É quando começamos a perceber o ciclo da vida. Que ciclos se fecham e outros começam. E não temos controle sobre isso, porque não há como conter o tempo. Elas também criaram uma linda memória afetiva naquele dia e sei que carregam esse tesouro com elas na vida adulta. A importância do lúdico, da imaginação, em todas as fases.

Sobre memória afetiva…vamos falar mais sobre isso? 

Teatro não tem idade. A arte transcende o tempo.  

Há quanto tempo não vais ao teatro? 

No próximo artigo, conversamos… 

 

Abraços Demorados

Tanise, a Diva. 

😃🌻

Tanise A Diva

Tanise A Diva

Uma vida com a arte/teatro no Brasil e hoje vivendo com a família em Portugal. 🇧🇷❤🇵🇹 Insta: @tanise_diva

One Comment

  • Avatar Simone Sbaraini disse:

    Que intenso!!! De certeza que marcou muito profundamente todos os envolvidos. Parabéns!!! Seu trabalho é algo de magnifico.
    A cada artigo fico mais encantada!!!

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